A primavera pode ser uma fase particularmente difícil para os doentes que sofrem de doenças alérgicas do aparelho respiratório. Estas doenças podem afetar crianças, adultos e idosos, podendo condicionar de forma significativa a sua qualidade de vida. Existem várias doenças alérgicas respiratórias, que podem manifestar-se através de espirros, comichão e pingo no nariz (rinite), a que pode estar associado nariz entupido e dor de cabeça (sinusite), ou pieira, falta de ar, tosse (habitualmente, associados a asma). Por outro lado, as pessoas que sofrem de rinite podem apresentar sintomas oculares incluindo lacrimejo, comichão e olho vermelho (conjuntivite). Estas doenças não são exclusivas entre si, já que qualquer pessoa pode apresentar, por exemplo, rinite e conjuntivite, ou rinite e asma, ou rinoconjuntivite e asma.
As manifestações da doença alérgica respiratória são, maioritariamente, despoletadas pelo contacto respiratório com alergénios (exemplos: ácaros, pólenes, epitélios de animais, ou fungos). A pessoa alérgica pode apresentar alergia a um ou a vários alergénios de forma simultânea. A gravidade das manifestações alérgicas depende de vários fatores individuais/internos e ambienciais/externos (exemplos: concentração de pólenes no ar, grau de exposição do indivíduo).
Os pólenes são libertados pelas plantas, e em maiores quantidades, em fases específicas do ano, sendo que os que mais frequentemente causam alergias respiratórias durante a primavera no nosso país (habitualmente, entre abril e maio) são libertados pelas gramíneas. Estas atingem o seu pico de polinização nesta fase, pelo que as pessoas exclusivamente alérgicas aos pólenes de gramíneas, habitualmente só apresentam sintomas durante este período.
Adicionalmente, algumas pessoas são alérgicas a outros tipos de pólenes cujas concentrações podem atingir picos em fases próximas dos verificados para as gramíneas. Estes podem incluir:
- Os pólenes das árvores (exemplos: oliveira, ciprestre, bétula), cujo pico de polinização pode surgir mais precocemente, logo no início da primavera/final do inverno, e que são facilmente transportados pelo vento por longas distâncias, devido ao facto de os grãos de pólenes serem pequenos e leves
- Os pólenes das ervas (exemplos: artemísia, plantago, salsola) que polinizam na primavera e, frequentemente até ao final do verão/início do outono
Por outro lado, uma percentagem muito importante de pessoas alérgicas aos pólenes de gramíneas pode apresentar alergia a frutas frescas, ou até mesmo a frutos secos. Estas podem manifestar-se, numa fase inicial, por sintomas orais (comichão/desconforto ou edema no interior da boca, ou lábios), que, em situações específicas, podem progredir para reações alérgicas generalizadas e potencialmente graves.
Tratamento
No que diz respeito ao tratamento e restante abordagem, todas as crianças, adultos e idosos que sofram de manifestações de doença alérgica (sejam respiratórias, nasais, oculares ou alimentares) durante a primavera (ou em qualquer altura do ano) devem ser observados em consulta por um médico especialista em Imunoalergologia. Este irá estabelecer a causa subjacente e recomendar o tratamento mais adequado para a patologia em causa.
O tratamento pode passar por medicamentos (comprimidos, sprays nasais ou inaladores) e, ou pela imunoterapia com alergénios (vulgo vacina para as alergias) que visa reduzir de forma muito significativa os sintomas alérgicos. Por outro lado, pode ser importante evitar o contacto com o alergénio em questão.
Quando nos referimos às medidas de evicção dos pólenes, devem ser consideradas:
- Utilizar máscara facial na realização de atividades físicas ao ar livre
- Utilizar aspiradores e purificadores de ar com filtros HEPA, evitando o uso de fragâncias
- Utilizar óculos escuros (preferencialmente, com proteção lateral) de forma a prevenir sintomas oculares
- Secar a roupa no interior das habitações, evitando a exposição aos pólenes no exterior
- Permitir o arejamento dos edifícios nos períodos com menor concentração de pólenes, nomeadamente ao amanhecer e ao anoitecer
- Viajar com as janelas de automóveis fechadas, preferindo a refrigeração do interior com recurso ao ar condicionado com filtro para pólenes
- Após período de exposição prolongada (no exterior), deve tomar banho e lavar o cabelo ao chegar a casa
- Evitar sair de casa nos dias em que se verifiquem altas concentrações de pólenes, através da consulta do boletim polínico